Pós-verdade, pós-eleição e pós-eu

Por Marcus Stoyanovith

A campanha eleitoral iniciada há quatro anos se estenderá até o dia 30/10/2022. Pois é! Como Presidente da República, Bolsonaro se desviou da liturgia do cargo e usou o poder de influência que este emana do ofício público para manter-se no palanque eleitoral, dando continuidade a uma comunicação construída, de forma extrema, dentro do conceito de manipulação em massa.

Explícito com toda clarividência um dos entendimentos de pós-verdade que deixa de lado os fatos (realidade objetiva) e cria subjetividades ligadas às emoções e às crenças pessoais, na maioria das vezes, para manipular a opinião pública.

E nada mais apraz à “real política” que gerar desinformação na certeza de que seu público receptor se reconforta em ouvir, ler, assimilar apenas o que julga acreditar. Na mesma linha, despreza tudo que lhe é diferente.

Nada mais apraz ao Estado e aos seus aparelhos (Governos, Igrejas, Templos, Mídia, Elites), o único que pode criar uma mentira de pernas longas, engendrar meias verdades com meias mentiras e numa bem elaborada justaposição encobrir a realidade a olho nu.

Adicione a isto à tecnologia que pelas veias da Internet gera trilhões de informações mundo afora, sem regulamentação (não confundir com censura) e à disposição 24 horas. Agora pegue todos os aparelhos do Estado junte com a força maior da Internet como veículo de informação instantânea e use o próprio regime político, a Democracia para manipular.

O ápice dessa manipulação se dá, após etapas escalonadas, no auge do principal evento de todas as Democracias: o sufrágio universal, nas eleições. A informação que norteia uma eleição bebe na ciência da Propaganda que por sua vez vem recheada com o Marketing que agrega várias ciências.

Essa característica transformou o candidato em produto, a informação em argumento de venda e o eleitor em consumidor. Aqui não vai nenhuma crítica à Propaganda, mas à forma como ela é utilizada pelo Marketing quando este vislumbra o poder a qualquer custo e ao invés de ter como base a persuasão (quando se deixa clara a intenção do argumento) considera a manipulação (quando se esconde a intenção do argumento).

Não foi preciso inventar a roda no quesito da Comunicação Estado X Sociedade. Todo conhecimento veio da escola nazifascista. Daí era só ampliar de forma exponencial a indústria geradora de não-notícias e a manipulação, tipo: uma mentira repetida muitas vezes vira verdade; inverta os valores dando relevância ao irrelevante, destrua o outro com ofensas duras e de forma permanente etc.

O objetivo maior e bem real é, pela via do embuste, quebrar instituições, vender valores morais falsos e alcançar a outra violência: a física. Essa já está aí. A intolerância aos argumentos contrários, um deputado que descarrega um fuzil e aciona granadas contra a Polícia Federal e tantas outras atrocidades que estão ainda saindo da boca de um presidente para ganhar as ruas.

Nas eleições não se tem a informação jornalística que poderia dar clareza ao que se pretende fazer no Governo, deixando em evidência a fonte do recurso financeiro a ser utilizado e mais do que isso, ajudando a eliminar um vício comum (explicado no pós-verdade) que é o de falar uma coisa e fazer outra. E mesmo que a mentira seja um fato, pode ser facilmente eliminado pela mídia convencional ou digital com seus robôs algoritimizados.

Os aparelhos de Estado favorecidos pela tecnologia da informação e o formato dominante da linguagem eleitoral bebem na mesma fonte da pós-verdade. O bolsonarismo que antecede ao próprio Bolsonaro é modelador e será exemplo para as próximas eleições. Eleições que produzem não propostas de Governos, mas ideias de desejos de consumo que tomam conta do pensamento de uma maioria, cada vez mais robusta, no País das novelas.

Pós-verdade, pós-eleição são fatores da realpolitik (como realmente age o poder nos bastidores), produtora da fantasiosa narrativa que é devolvida ao grande público receptor, dando-lhe a impressão de que o Estado pensa igual a ele. Pensar pensa, mas não age igual.

O pós-eu talvez seja formado por minoria de indivíduos que buscam uma saída para novo relacionamento com a realidade sem distorções cognitivas, onde a mentira e a manipulação de pernas longas, advindas do Estado, embarre e perca para seu pior inimigo, a informação limpa, objetiva e clara como a do Jornalismo, ao menos em seu fundamento e em sua técnica.

Esse pós-eu será de fato uma minoria, mas vencerá porque a essência humana é a busca da verdade, razão de viver. Não exatamente na sua forma absoluta, mas naquela cuja dedução encontra na objetividade, no fato e que conte até três antes de formular seu juízo de valor.

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