SJP/AM promove mesa-redonda sobre o espaço feminino na linguagem e a violência contra a mulher nas redações

8 DE MARÇO
SJP/AM promove mesa-redonda sobre o espaço feminino na linguagem e a violência contra a mulher nas redações

“A gramática cumpre uma das funções mais antigas: estabelece um modelo de competência em que transforma o ser feminino em apêndice ou coadjuvante em nome de uma situação supostamente coletiva”. Entorno desta temática profissionais, estudantes, e convidadas realizaram as discussões sobre violência contra a mulher no ambiente trabalho e o papel que ela desempenha dentro das redações na noite da última sexta-feira, 09/03, durante o evento “Mulheres de fibra, mulheres jornalistas”, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJP/AM) em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.

A frase da jornalista e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ivânia Vieira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA-UFAM), deu o tom das reflexões sobre como o feminino é apagado da linguagem ao longo da história e torna-se fator determinante no contexto cultural da sociedade brasileira.

“O discurso da dominação perpassa vários espaços e isso esconde um processo de silenciamento, esconde a lógica da hegemonia masculina”, afirmou Vieira. A conclusão é reflexo da pesquisa de sua autoria que resultou no livro “O discurso operário e o espaço da fala mulher”, que traz uma análise sobre o espaço destinado às mulheres no informativo Linha de Montagem, do Sindicato dos Metalúrgicos no Amazonas, no ano de 1990, quando a força de trabalho dentro da Zona Franca de Manaus era composta por mais de 70% de mulheres sem, no entanto, estarem representadas dentro do principal instrumento de comunicação de uma das principais categorias de trabalhadores organizadas no Estado.

“O papel da imprensa nesse contexto também seguiu a mesma linha: elas sumiram na história contada pelos jornais tradicionais; as legendas generalizavam pelo masculino mesmo quando tínhamos imagens com barreiras enormes formadas por mulheres que até mesmo deitavam no chão em protesto, durante a greve. Elas eram a maioria e, portanto, fator determinante em uma votação em favor da greve e ainda assim sumiram desse contexto. E este papel é nosso também, de identificar o que cada palavra carrega; porque escolho usar esta e não aquela; é preciso que tenhamos todos comprometimento com uma cultura de igualdade e de paz”, disse.

Ivânia apresentou ainda, a título de colaboração com as discussões, trechos do livro “Mulheres jornalistas: a grande invasão” (2010), da jornalista Regina Helena de Paiva Ramos, que retrata a entrada das mulheres no mercado jornalístico brasileiro e os desafios enfrentados na ocasião. No ano de 1952, por exemplo, começava a ocupação das redações em São Paulo e Rio de Janeiro, um universo de 30 mulheres.

A presidente do SJP/AM, Auxiliadora Tupinambá, trouxe dados da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela plataforma de jornalismo independente Gênero e Número, sobre o assédio e a violência sofrida por mulheres nas redações. Na pesquisa, que abrangeu um universo de aproximadamente 500 jornalistas, 70,4% disseram já ter sido alvo de abordagens de homens durante o exercício da profissão que as deixaram desconfortáveis.

“Essa é uma realidade ainda mascarada nas redações e a cultura está internalizada não apenas entre as fontes masculinas e na sociedade com um todo, como dentro do ambiente de trabalho, daí a importância de fortalecimento do sindicato como instrumento de luta contra esse tipo de violência”, afirmou Tupinambá.

Além do assédio sexual, a discriminação sexista dentro da redação em relação ao trabalho como a distribuição de pautas com base em estereótipos de gênero, por exemplo, também foi identificada por 86,4% das participantes da pesquisa. Foram lidos alguns depoimentos da parte qualitativa da pesquisa que chocaram os participantes.

“As recomendações da pesquisa de criação de grupos de monitoramento e capacitação das redações quanto ao tema da diversidade são importantes lutas que vamos incluir em nossa plataforma de trabalho”, afirmou a presidente do SJP/AM.

Na ocasião, a Procuradoria Regional do Trabalho da 11ª Região apresentou a cartilha “Assédio Sexual no Trabalho: perguntas e respostas”, lançada durante a semana de comemoração do Dia Internacional da Mulher. Convidada para integrar a mesa, a procuradora Fabíola Salmito, responsável pela Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho, não pode comparecer.

Poesia

Natural do município de Anori (a 234 quilômetro de Manaus), a escritora e poetisa amazonense Silvia Grijó, compartilhou suas experiências pessoais e poemas do seu último livro, “Mulher à Flor da Pele”, em que  coletânea de poemas que retratam os sentimentos do âmago da alma feminina, do amor à vida, dos encantos e afeições que permeiam as relações humanas e das belezas naturais e culturais que compõem os cenários amazônicos.

“É muito importante estar aqui e compartilhar com vocês uma realidade que, como mulher , consegui expressão por meio da escrita. Este é um espaço que devemos nos manifestar sempre”, afirmou.

Silvia é sócia fundadora da Associação Rural de Mulheres e Amigos da Colônia Agrícola João Paulo – ARAMACAJAP, membro da Associação dos Escritores do Amazonas (ASSEAM), membro integrante do Grupo Formas Em Poemas, sócia titular da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos (ABEPPA). De descendência indígena Mura, é mãe de 4 filhos, graduada em Ciências Naturais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM e é Pós-Graduanda em Educação do Campo/IFAM. Apaixonou-se pela literatura desde cedo e, atualmente, dedica-se também a despertar esse interesse em alunos do interior do Estado.

Assessoria de Imprensa
SJPAM
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Fotos: Steffanie Schmidt

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