Presidente do Senado compromete-se com a defesa da liberdade de imprensa e da segurança dos jornalistas
FENAJ e mais sete entidades de defesa dos jornalistas e das liberdades de expressão e de imprensa entregaram carta aberta com recomendações ao Congresso
Representantes de oito organizações de defesa dos jornalistas e/ou ligadas às liberdades de imprensa e de expressão reuniram-se nesta quarta-feira, Dia do Jornalista, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A reunião virtual serviu para a entrega da Carta aberta em defesa da liberdade de expressão, na qual as entidades pedem o compromisso dos líderes do Congresso Nacional com a liberdade de imprensa e a segurança de jornalistas e comunicadores do país. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também foi convidado, mas não participou do encontro.
Rodrigo Pacheco afirmou que uma imprensa livre é fundamental para o estado democrático de direito, disse que é preciso repudiar os ataques aos jornalistas e que vai, de agora em diante, ter a preocupação de se manifestar publicamente contrariamente à violência que atinge os jornalistas brasileiros.
O presidente do Senado praticamente endossou todas as recomendações que as entidades apresentaram na carta aberta. São elas:
> Garantir que todos os projetos de lei que tenham impacto sobre o acesso à informação, o trabalho jornalístico e a liberdade de imprensa sejam amplamente debatidos com a sociedade civil, organizações de liberdade de imprensa, jornalistas e especialistas nos respectivos temas;
> Garantir a posse dos/das conselheiros/as do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional e o seu pleno funcionamento, ainda que de forma remota, para que os projetos de lei que tratam dos temas da comunicação sejam apreciados pelo referido Conselho, antes de serem submetidos à votação final;
> Garantir a lisura dos procedimentos legislativos internos na apreciação de projetos de lei, bem como a transparência e a devida divulgação das informações em tempo adequado para a garantia de análise técnica e debate externo com a sociedade;
> Garantir que qualquer projeto de lei aprovado estará alinhado com os compromissos assumidos pelo Brasil internacionalmente em relação ao direito de acesso à informação e à liberdade de imprensa;
> Garantir que qualquer projeto de lei aprovado estará alinhado com as garantias constitucionais que vedam a censura e protegem a liberdade de imprensa e o direito à informação, respeitará as normas internacionais e será um instrumento de fortalecimento da democracia e dos direitos humanos;
> Adotar um discurso público que contribua para prevenir a violência contra comunicadores e para a construção de um ambiente favorável para o livre exercício do jornalismo e da liberdade de expressão;
> Condenar de forma pública, inequívoca e sistemática qualquer forma de violência contra comunicadores e encorajar as autoridades competentes a agir com a devida diligência e rapidez na investigação dos fatos e na punição dos responsáveis.
Além das recomendações, o documento coletivo lembra que o Brasil vive um cenário preocupante de crescentes ameaças e ataques a jornalistas e restrições à liberdade de imprensa e descreve um ambiente cada vez mais hostil para o exercício da profissão.
“Dificuldade de acesso a dados públicos, censura judicial, remoção de conteúdo, ameaças e agressões físicas, campanhas difamatórias e assédio online são elementos que compõem o cenário. Some-se a isso a impunidade em crimes cometidos contra jornalistas”, descreve a carta.
Para as organizações, “apesar dos compromissos assumidos internacionalmente e das garantias estabelecidas na Constituição Federal de 1988, o Brasil tem falhado em proteger a liberdade de imprensa e apresenta riscos de retrocessos em relação a direitos conquistados”.
De acordo com os representantes das organizações, o objetivo do encontro foi aproveitar a renovação das lideranças do Congresso Nacional para reforçar a importância do poder legislativo na garantia da liberdade de imprensa. Em março de 2020, parte das organizações já havia se reunido com o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para relatar problemas concretos enfrentados por entidades que acompanham as garantias constitucionais da liberdade de expressão.
A Abraji está analisando quase 40 proposições em tramitação nas duas casas legislativas cujo foco se relaciona com imprensa e liberdade de expressão. A FENAJ está analisando quase uma dezena de projetos de lei que tratam da segurança dos jornalistas.
Além da FENAJ, assinam a carta a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Intervozes, Instituto Vladimir Herzog, Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) e Repórteres sem Fronteiras (RSF).
Situação dos jornalistas
No documento enviado às lideranças do poder legislativo, as organizações citam pesquisas que indicam o agravamento da violência a comunicadores no Brasil.
Segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2020 registraram-se 428 ataques a jornalistas e à imprensa, 105,77% a mais do que em 2019. A descredibilização da imprensa foi a violência mais frequente: 152 casos (35,51%). O presidente Jair Bolsonaro, sozinho, foi o maior agressor com 175 casos (40,89% do total).
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) listou ao menos 580 episódios de ataques à imprensa em declarações oficiais do alto escalão do poder público, entre ministros, parlamentares e o próprio presidente da República, apenas no ano de 2020.
Dados da Abraji revelam que, em um único mês de 2021, o presidente foi o responsável por 11 das 22 ofensas proferidas contra jornalistas por parte de agentes públicos. Bolsonaro é campeão de bloqueios a jornalistas no Twitter. Ainda segundo a associação, mulheres jornalistas foram vítimas de mais da metade das agressões no meio digital. Já no primeiro semestre de 2020, a Abraji havia registrado 167 violações à liberdade de expressão.
No ano passado, o Brasil ocupava a oitava posição no Índice Global de Impunidade de homicídios de jornalistas, segundo dados do Comitê para Proteção de Jornalistas, uma piora em relação ao ano de 2019, em que ocupava a nona posição.