Big techs não têm compromisso técnico e deontológico com a informação de interesse público

Reafirmar o Jornalismo como “ponto seguro, confiável, útil e necessário” para as pessoas, “reformar linguagens e hábitos”, “apostar no ambiente local e na cooperação” são algumas das iniciativas que podem auxiliar as empresas jornalísticas a saírem das múltiplas crises do setor. Para os jornalistas brasileiros, impactados com a perda de 5.322 postos formais de trabalho no segmento, entre 2010 e 2019, a alternativa é intensificar a unidade na categoria.

Essas foram as principais conclusões do painel “A crise do Jornalismo: causas e consequências”, realizado na manhã de sábado (26/11), no auditório do Sebare/CE, como parte da programação do Seminário Nacional sobre Sustentabilidade do Jornalismo e do II Encontro Estadual dos Jornalistas de Imagem e Profissionais de Comunicação do Ceará (II EEJIC).

Realizados Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), os eventos contaram com apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES) e da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).

Para o professor e pesquisador Rogério Christofoletti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Observatório da Ética Jornalística (ObjEthos), a crise do Jornalismo é “de natureza financeira, mas também ética, de credibilidade, de confiança e de governabilidade”.



Avaliando “como chegamos até aqui”, Christofoletti elenca fatores “internos, externos e indomáveis”. Um dos fatores internos, segundo ele, é a disputa de atenção e renúncia à etapa de distribuição na atividade jornalística. “Negligenciamos da distribuição e hoje somos totalmente dependentes das grandes plataformas para chegar ao público”, pontou.

Em seguida, o pesquisador enumerou a “adesão aos formatos e métricas das big techs“. “Mimetizamos as redes, ou seja, capitulamos em nome do fenômeno da viralização”. Para Christofoletti, as redes sempre chegarão antes do Jornalismo até por não terem “compromisso técnico e deontológico” com a informação de interesse público.

Por fim, ainda entre os fatores internos, o coordenador do ObjEthos destacou o distanciamento das empresas jornalísticas do público. “Não costumamos saber o que o público quer ou precisa”, afirmou.

Entre os fatores externos, o pesquisador citou: o aumento na oferta de conteúdos não informativos e a cooptação dos pequenos e médios veículos jornalísticos pelas plataformas. “Esses veículos não são remunerados pelas big techs e, para fazer circular seu conteúdo, têm de pagar a elas por meio do impulsionamento. Parece o modelo em que a maça é mordida dos dois lados”.

Já nos fatores indomáveis, Christofoletti cita a economia da atenção e a visível fadiga inicial do modelo das plataformas. “Em resumo, há muita disputa, em bases assimétricas, entre o Jornalismo e as plataformas. Por isso, ele defendeu que é preciso “engrossar o couro em torno da regulação e da taxação” dessas gigantes transnacionais.

Impacto para os trabalhadores

A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, tratou do impacto da crise do Jornalismo para os profissionais do segmento: redução dos postos formais de trabalho, precarização dos vínculos de contratação, super exploração da força de trabalho e degradação do ambiente, sobretudo nas redações. “Até 2019, o país tinha perto de 50 mil profissionais de jornalismo trabalhando com carteira assinada. Claro que esse número deve ter diminuído após a Covid-19”, frisou.

Citando estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Castro acrescentou que o auge do emprego com carteira assinada para os jornalistas brasileiros foi 2013, quando havia 60.899 vínculos na área. Se comparado a 2019, com 49.391 empregos, a redução foi de 19%.

“De 2010 a 2019l o Brasil perdeu quase 10% dos empregos formais no Jornalismo, saindo de 54.713 para 49. 391 vínculos. São 5.322 postos a menos. E isso tem impacto na qualidade das informações que são disponibilizadas para a sociedade”, completou a dirigente sindical, para quem a concorrência desleal das plataformas só agrava a situação pois os empregos gerados nas mídias digitais são inferiores ao montante perdido em outras mídias e empregam com baixa remuneração.

Fonte: Fenaj

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