Philip Fearnside alerta para devastação da floresta e o aquecimento global

O biólogo e cientista brasileiro, pela importância da sua produção científica, recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo trabalho “Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas”

Por Alessandra Aline Martins

O cientista Philip Martin Fearnside, doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA), pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta que o Brasil seria devastado se o aquecimento global escapasse do controle, e a floresta amazônica seria perdida, incluindo sua função vital de ciclagem de água para o consumo humano. 

“Sobre esta água que é reciclada na Amazônia, as estimativas vão de 36%, até 70%. Agora, se for 70%, qualquer perda de floresta da Amazônia seria uma catástrofe imediata. Mas, mesmo que fosse apenas o mínimo, 16%, em um ano como de 2014, São Paulo teria ficado sem água. Então, é muito importante manter essa função da floresta que está sob constante ameaça”, destacou Philip Martin Fearnside, durante II Congresso Internacional de Direito Interdisciplinar, realizado pelo Centro Universitário do Norte (Uninorte Ser Educacional), em Manaus-AM.  

O biólogo e cientista brasileiro recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Philip Martin Fearnside possui mais de 600 publicações científicas e mais de 500 textos de divulgação de sua autoria.

Durante o evento, Philip Martin Fearnside apresentou cenários sobre a situação climática. O principal aponta para um grande acordo entre os países, particularmente, com base nas diferentes e diversas emissões. E mesmo assim, em todos os cenários, a Amazônia ficará bem mais quente, e também mais seca. 

“E se as emissões continuam assim, fica muito mais seco e mais quente. Então, é isto que mata a floresta, a combinação de seca e calor com temperatura mais alta, afinal qualquer planta precisa de mais água para sobreviver. Essa realidade é muito conhecida na agricultura, por exemplo. Então, justamente não haverá mais chance, porque há muitas árvores morrendo de sede, calor e falta de água. Esse quadro é citado claramente pelo projeto Dinâmica Melódica e Fragmentos Florestais que o Inpa tem, em Manaus”, aponta Philip Martin Fearnside. 

Philip Fearnside aponta muito óbvio que perto da floresta as árvores vão morrer, porque a temperatura é mais alta e a umidade é mais séria que vai dentro da floresta intacta, ou seja, exatamente nessas mesmas condições que toda floresta vai enfrentar com essas mudanças previstas.

“(…) Então é isso que a população humana está fazendo. Queimando e desmatando. Então, se a gente emite mais gás  do que está saindo, porque tem mais 500 florestas no mundo, ficamos dependendo de carbono do mundo (…)”, declarou Philip Fearnside.

Fearnside explanou também sobre a grande seca que ocorreu em 2023, que vitimou mais de 150 botos mortos no município de Tefé, no Amazonas, a 523 quilômetros de Manaus, por causa da alta temperatura na água.

Em 2023, a seca em Tefé foi marcada pela morte de mais de 200 botos-vermelhos e tucuxis (mamíferos aquáticos da região amazônica), no lago de Tefé, por conta da elevada temperatura, conforme o registro do Instituto Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).

Além dos mamíferos aquáticos, os ribeirinhos, agricultores que trabalham em comunidades distantes da cidade, pescadores, trabalhadores da educação, saúde, e a economia também foram afetados pela seca de 2023. A população local viveu momentos desafiadores e improvisos pela sobrevivência.

Mudanças climáticas e seca em 2023

As mudanças climáticas extremas causam os períodos de seca, o que afetou a agricultura, os ribeirinhos, criação dos animais terrestres e os mamíferos aquáticos, como, por exemplo, os botos. Gerando prejuízos que são, sem dúvida, consequências das ações do homem no planeta. 

Dos 62 municípios do Amazonas, a terra da Castanha, como é conhecido o município de Tefé no Amazonas (522 quilômetros distante de Manaus), entrou para história, em 2023, com a grande seca, onde seu lago chegou a atingir a temperatura de 40 °C, provocando a morte de diversos botos-vermelhos e tucuxis. A ex-princesinha do Rio Solimões tornou-se alvo de inúmeras abordagens jornalísticas, ganhando as páginas do noticiário nacional.

Os ribeirinhos das comunidades de Tefé foram prejudicados com a seca de 2023, onde apenas barcos pequenos com muita dificuldade navegavam na região. Na época, o Instituto Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) realizou resgates com apoio de outras instituições, e orientou a população tefeense como tratar a água em casa durante a seca.

Desmatamento

O ambientalista Carlos Durigan destaca que o desmatamento na Amazônia tem se constituído um grande problema pela degradação ambiental, ameaçando a biodiversidade e, ainda, afetando o clima global. A ação contribui para o aquecimento do planeta, cenário vivente nos dias atuais.

“Este cenário negativo afeta tanto a todos nós atualmente, e ainda deve afetar a qualidade de vida das futuras gerações. Nosso modelo de viver e produzir tem se constituído como o principal vetor dessas mudanças, uma vez que, o aumento da população e a ampliação de frentes de produção agropecuária, são realizadas de forma indiscriminada e afeta drasticamente nossos ambientes naturais”, disse o  ambientalista.

Segundo Durigan, o grande desafio que se coloca a sociedade é o de buscarmos formas de produzir reduzindo os impactos. “Esforços são feitos, neste sentido, estabelecendo políticas e normas de proteção de florestas, mas, ainda precisamos evoluir para construir um modelo de desenvolvimento em que consigamos reduzir o desmatamento”,  afirmou Durigan.

Foto: Oton Barros/DSR/OBT/INPE

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