META ameaça para o jornalismo e a democracia

A medida foi inicialmente implementada nos Estados Unidos e as consequências serão sentidas mundialmente devido à ampla abrangência das plataformas da Meta e sua ligação com o jornalismo.

Por Alessandra Aline Martins

A declaração de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, divulgada em janeiro, pode impactar negativamente o jornalismo digital globalmente, incluindo o Brasil. A mudança vai afetar a checagem de fatos e a integridade da informação nas plataformas da Meta, substituindo o sistema atual por um modelo de verificação voluntária, similar ao adotado pelo X, antigo Twitter. 

A medida foi inicialmente implementada nos Estados Unidos (EUA), e as consequências serão sentidas mundialmente devido à ampla abrangência das plataformas da Meta e sua ligação com o jornalismo.

A presidente da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), Samira de Castro, aponta que as plataformas da Meta, ao concentrarem grande parte da circulação de informação nas redes, passaram a mediar o debate público com critérios que não são transparentes e que, muitas vezes, priorizam o engajamento acima da verdade. 

“Isso cria um terreno fértil para a desinformação, especialmente quando conteúdos falsos ou manipulados são impulsionados por algoritmos, chegando mais rápido e mais longe do que o jornalismo responsável. Além disso, quando a Meta se recusa a remunerar veículos jornalísticos de forma justa ou impõe barreiras ao acesso à informação de interesse público, ela mina não só o trabalho da imprensa, mas o próprio direito da população a ser bem informada — o que é essencial para qualquer democracia viva e plural”, afirmou Samira de Castro.

O jornalista brasileiro de origem libanesa, Anwar Assi, destaca que não somente a Meta pode ameaçar a democracia e propagar desinformação, mas, também as big techs.

“Não só a Meta. Praticamente todas as big techs são a ponta de lança que os governos e grupos de extrema-direita usam para propagar desinformação e fake news”, destacou o jornalista.

O jornalista Anwar Assi afirma que a democracia pode ser afetada no momento que essas plataformas são permissivas com atividades criminosas, movimentos antidemocráticos, discursos de ódio, fake news e desinformação. 

“Sob o falso pretexto da liberdade de expressão, as big techs permitem que suas plataformas sejam usadas por criminosos para a criação de grupos que articulam atos violentos e propagam ideologias radicais, como é o caso da extrema-direita mundial, que tem se articulado de forma organizada inclusive no Brasil. As redes sociais não deveriam ser usadas para promover golpes de Estado, ditaduras ou violência de qualquer tipo, principalmente a violência política”, explicou Assi.

Para o cientista político, sociólogo e professor na UFAM (Universidade Federal do Amazonas), Luiz Antonio, um dos elementos fundamentais da democracia é a capacidade e a possibilidade de tomada de decisão autônoma por parte das pessoas, por parte das instituições, por parte das organizações sociais. 

“A meta detém quase 90% da publicidade no mundo. A gente tem 40%, aproximadamente, de toda a comunicação nas redes sociais na base da Meta. E aí o que acaba acontecendo? Você não tem liberdade para fazer escolhas. Escolhas, por exemplo, eu quero conversar com você, mas não quero usar as redes sociais da Meta. Eu quero fazer uma conta, quero fazer uma compra nas redes sociais e não quero comprar na Amazon, a chance de eu conseguir fazer isso é muito pequena. Porque esses camaradas, eles dominam as redes de comunicação”, declarou o sociólogo.

Conforme o sociólogo, a Meta está dominando também o mercado publicitário, e considera ser grave esta concentração vir de um setor privado. “O que é mais grave, concentra nas mãos de um setor privado, que não deve nenhuma obrigação com a responsabilidade pública. Então, de forma muito sintética, sim, a meta ameaça. A meta, assim como as Big Techs em geral, ameaçam sim a democracia”, explica o sociólogo.

Luiz Antonio conta que no caso específico da Meta, do Zuckerberg e do X, que pertence a Elon Musk, tem um agravante, que são dois sujeitos que têm flertado de forma muito explícita com o nazismo, e neonazismo. 

“Isso é gravíssimo, porque além de eles ameaçarem a democracia, estão empurrando as sociedades na direção de estados autoritários e totalitários. Isso ameaça a todos, todos, sem exceção”, acrescentou Luiz Antonio.

Foto: Dado Ruvic

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